
Desculpem mas este tem que ser grande!
Ainda estou pasma! Por momentos cheguei a pensar que isto fosse obra do sono, mas afinal não. Afinal estava mesmo diante da maior barbaridade escrita que alguma vez vi. Rui Ramos, que dá pelo titulo de historiador, é licenciado em História e doutorado em Oxford (palavras do senhor Paulo Pinto Mascarenhas). Ora este Sr. Dr. Historiador escreveu um artigo, publicado na revista Atlântico, intitulado de Heil Che. Esta revista, que tem também um lugar na blogosfera - http://www.atlantico-online.net/blogue/ ou http://revista-atlantico.blogspot.com/2007/01/rui-ramos-no-pblico.html - foi mencionada num outro sítio da mesma - http://virtualidades.blogspot.com/2007/10/heil-che.html - por causa deste mesmo artigo, em que o deslumbrado bloguista contava assim:
As esquerdas ficaram alarmadas com a brilhante capa da Revista Atlântico deste mês. Provavelmente não leram o brilhante artigo do Rui Ramos, que até nem chega a escrever directamente sobre mortandade causada por Che no período revolucionário cubano. Até é um artigo soft, mas bem elucidativo da essência da personalidade de Guevara. Argumentos e factos históricos não interessam a este debate. O que realmente importa é "berrar" contra a analogia criada pela imagem. Che Guevara, inacreditavelmente, ou não, continua um icon desta esquerda revolucionária e saudosista. Mas esta idolatria em relação ao médico argentino também nos diz muita coisa sobre esta "gente". "Diz-me quem idolatras, e eu digo-te quem és!"
Published by Nuno Gouveia on Terça-feira, Outubro 09, 2007 at 17:38
Realmente o que aqui não importa são argumentos e factos históricos, vamos reflectir?
Bom, como gosto de falar e ter a certeza do que digo, qual não é o meu espanto a ver que o tal artigo era mesmo a comparar Ernesto Guevara a Adolf Hitler!! Como ainda estou um pouco atordoada deixo-vos aqui pitada desse mesmo artigo:
O “povo” foi a grande companhia imaginária de Guevara. “Sem o apoio da população” nada podia ser feito, repete vezes sem conta. Mas essa população não era a das pessoas que existiam. Era um povo teórico, que o próprio Guevara se propunha criar submetendo a população à hierarquia e disciplina rígidas do exército revolucionário. Fora da hierarquia e da disciplina revolucionária, o povo não lhe interessava: “a democracia revolucionária não se exerce na condução dos exércitos em nenhuma época e em nenhuma parte do mundo, e onde isso foi tentado, acabou em fracasso”. Fala muito dos “camponeses pobres”. Mas diante deles, no Congo e na Bolívia, percebeu que não podia comunicar com eles. No Congo, porque os revolucionários cubanos que o seguiam nunca levaram a sério os nativos: “Os nossos eram estrangeiros, seres superiores, e faziam-no sentir com demasiada frequência”. Ele, porém, não era melhor, quando escrevia que viera para “cubanizar os congolenses”, impor ao seu desleixo a regra ascética do exército revolucionário (ficando furioso quando julgou assistir à “congolização dos cubanos”, contaminados pela anarquia local).
Na Bolívia, os camponeses que o viram e ao seu bando chamaram-lhes, como Guevara notou no diário, “os gringos”. Era o nome dado aos brancos dos EUA. Guevera, o inimigo dos gringos, era um gringo: o filho literato de uma família de aristocratas e milionários argentinos, definido acima de tudo pelo ancestral ressentimento das elites espanholas da América contra os EUA – um sentimento suficientemente forte para a família se lembrar que Guevara, em 1945, se opôs à entrada da Argentina na guerra contra a Alemanha nazi, porque considerava os EUA, e não o nazismo, o inimigo principal".
In o Insurgente - http://www.oinsurgente.org/2007/10/02/o-desprezo-de-che-guevara/Post intitulado O desprezo de Che Guevara, Publicado a 02 de Outubro de 2007 às 1:30 am por André Azevedo Alves.
Este senhor baseando-se nos diários de Che Guevara, elaborou, de acordo com aquilo que lhe pareceu bem, uma grande Estória. De qualquer forma, se este senhor faz estas afirmações espero que as possa provar. Quanto ao termo "gringo" eu passo a esclarecer - Gringo é um termo utilizado na América Latina, existente tanto em português quanto em espanhol. Pode denotar significados diferentes de acordo com o país ou a região que é utilizado. De maneira geral, o termo é aplicado para indivíduos estrangeiros, residentes em ou de passagem pelo país, especialmente quando falante de língua não vernácula. O que faz de Che Guevara um estrangeiro na Bolívia e não um Americano, certo?
Relativamente à última frase citada, esta posição de Che está correcta do ponto de vista do Comunismo, como também há que ter em conta a posição da própria Argentina, sim porque Che Guevara não pode servir de bode espiatório para tudo! O que preciso dizer ao Sr. Dr. Rui Ramos é que nós não tínhamos nenhum Che Guevara a impedir Salazar de se opor à entrada de Portugal na guerra contra a Alemanha. Contudo, ao contrário da Argentina que se fechou sobre as suas próprias guerras, Portugal meteu o rabinho entre as pernas e fechou-se sobre si próprio, porque assim, ou a Salazar, convinha! Agora diga-me qual destas posições a mais correcta? A meu ver, nenhuma! Não julgue p'ra fora, vá cá p'ra dentro!
O que, de facto, me irrita mais é a cambada de leigos que, aparentemente não auferindo de nenhum sentido critico sobre aquilo que lêem, aplaudem esta barbárie de artigo, bajulando o tal senhor.
Se por acaso não percebem o porquê da minha indignação a esta comparação demente que Rui Ramos faz, eu vou mostrar-vos outros artigos deste e sobre este mesmo senhor, que podem esclarecer, não só a minha profunda indignação, como também o seu cerne de pensamento e de todos os que o classificam como "o maior historiador de sempre". Passo então a citar um artigo de Rui Ramos sobre a execução de Saddam Hussein, presente no blog, quem diria (!), da revista Atlântico:
Quando quase nada é óbvio
RUI RAMOS(Público 3/01/06)
Para quem não pôde abster-se de imprensa ou internet nos últimos dias, foi impossível escapar às imagens da execução de Saddam Hussein. A propósito, discutiu-se quase tudo, da pena de morte à “justiça dos vencedores”. Partilho muitas das reservas perante a execução, mas a última parece-me descabida. A justiça é sempre de quem, além da razão, tem a força. O que foram os tribunais de Nuremberga ou de Tóquio, senão justiça dos vencedores? Não há justiça dos vencidos. É verdade que o processo de Bagdade deu sobretudo forma judicial a uma execução política. Mesmo assim, foi uma apreciável homenagem da vingança à legalidade, num meio em que as vidas humanas são baratas.
Faço aqui uma pausa para dar uma grande ovação a Saddam Hussein que, sendo uma pobre vida humana barata, matou outras milhentas pobres vidas humanas baratas, mas que aos olhos (vendados, creio) de Rui Ramos, não interessam aqui p'ra nada!
(...) Teria preferido ver Saddam na Haia, como Milosevic, embrulhado num processo interminável. Mas isso é uma questão de sensibilidade cultural.
Então é assim, este senhor, tão sensível do ponto de vista cultural, preferia ver Saddam no tribunal num processo interminável, ou seja, "não vamos matá-lo que isso é pouco e muito feio! Vamos mazé atulhá-lo de borucracias até às barbas na Holanda, porque isso sim vai doer e é justo!". De seguida, para se limpar (a meu ver), Rui Ramos fala de Bush e do seu deplorável desempenho como representante do Império Estado-Uniense. Ora que fique aqui bem claro que eu considero que a pena de morte é, de facto, um parcial desrespeito pela vida humana. E parcial porque se deve ter em conta que quem vai ser executado não é a senhora Laurindinha que decidiu roubar um tomate na mercearia da vizinha, são pessoas que cometeram crimes hediondos e que acima de tudo roubaram outras vidas, a meu ver, não menos importantes. E a abolição da pena de morte neste casos é, para mim, como uma declaração de insanidade mental num tribunal, que faz com que estas pessoas possam não ter que pagar pelos seus crimes da forma que seria esperada. Para mim, a declaração de insanidade mental devia ser uma constatação já interiorizada à priori, uma vez que quem mata por matar não é, de facto, bom da cabeça. Contudo, isso não faz com que deva ficar impune.
Quanto ao Bush, Sr. Dr. Rui Ramos, aquilo que diz não é novidade nenhuma, a gente já sabe a merda que para ali vai e, que o pobrezinho ainda tá na época dos descobrimentos petrolíferos.
Agora e, para vosso alivio (isto é, para os que lerem isto até ao fim), já para finalizar, deixo-vos uma opinião de um bloguista que explica esta perseguição de Rui Ramos à esquerda.
Rui Ramos
Um programa de História, na RTP, feito por um homem de direita é algo novo. Nos últimos 30 anos nunca tinha acontecido. Pode tornar-se hábito, atenção. O público (o pouco público que vê estes programas) pode gostar de ouvir outras pessoas - um público mais heterogéneo, que não se resuma só ao Bloco. Claro que o primeiro programa, com a Maria Filoménica Mônica, ficou na base da conversa de café. Mas este, emitido ontem, com Adriano Moreira... Enfim, é de ficar a ouvir até ao fim, colada a cada memória, a cada pedaço de história viva, a cada fio de conhecimento. Que em Adriano Moreira é como o fio de Ariane. Nunca termina.
In http://tangerinadoce.blogspot.com/2006/10/rui-ramos.html, publicado por Judite a Quarta-feira, October 11, 2006.
Falta só, aqui, um comentário a este post:
SGC said...
O Rui Ramos é, actualmente, um dos meus historiadores de eleição - socorro-me, amiúde, dos seus escritos, para sustentar a(s) minha(s) tese(s) e...já era tempo destes "pás" começaram a saber o q é a História! (a verdadeira) (...) Em Belém não devia estar aquele "equívoco" da direita, mas esta direita lúcida, personificada na figura de Adriano Moreira, mas há povos que não merecem pessoas ilustres...
Abraço apertado da velha amiga de direita!
Primeiramente, está tudo esclarecido! Ele é um homem de direita! Daqueles que têm a figura de Salazar na mezinha de cabeceira. Em segundo lugar, portanto, "um público mais heterógeneo que não se resuma só ao Bloco", a fraca audiência destes programas é do Bloco de Esquerda. Eu não sou, e agora? E os dados do INE??? Em terceiro lugar é Maria Filomena Mónica! E não Maria Filoménica Mônica...Isto ainda precisam de umas aulinhas. Por fim, quanto ao comentário depreende-se que a verdadeira História é a de direita! Opah por favor!!!!!!!
Bom já já mesmo para acabar, eu devo explicar que a minha simpatia pelo Comunismo, deixa muito espaço para criticar o mesmo. Não concordo com muitos aspectos que integram a ideologia Marxista-Leninista e, muito menos, com alguns pontos da história política do partido. No entanto, nada me dá o direito de desrespeitar a memória daquele que lutou pelos direitos de muitos povos latinos e que é hoje uma referência mundial na luta pelos direitos básicos de qualquer cidadão. Cabe-me tembém dizer que, para lá desses handicaps estruturais e ideológicos do PCP, este é o único partido que, mais uma vez a meu ver, é fiel na sua representação do povo.
Ah e em relação aquilo que é dito aqui - http://barnabe.weblog.com.pt/arquivo/049661.html, intitulado de O Cunhal de Rui Ramos, só tenho a dizer que foi graças ao Senhor Cunhal e à tortura a que foi submetido, que Ruizinho pode expressar todas estas barbaridades e que, ao contrário do que é dito, não se deve considerar um erro o ser-se fiel aos ideais, mas sim um acto de coerência e coragem que hoje não abunda nem a torto nem à direita.