domingo, 9 de dezembro de 2007

ele diria que "nao sei quantas almas tenho" eu digo que tenho uma mas nao sei a quantas ando.

Dizem que fomos feitos à imagem d'Ele. Eu podia jurar que ele era esquizofrénico.
Tanta gente e ninguém é aquilo que era suposto ser, tantos heterónimos que Ele não soube fazer. Pessoa criou cinco para concretizar o que não conseguia ser. Ele parece-me bem, mas cobarde pois nunca se deixa ver.
As semelhanças servem para confundir, para iludir e enganar, a diferença é a realidade crua de quem não quer ver. O que se procura é o igual, mas a verdade é que o diferente é o pólo forte de uma pilha de gente que não se entende, nem na diferença e muito menos na semelhança.
Gostava de saber do que são forradas as paredes do outro ser, mas ele ignora-me e assim fica difícil saber. Julga-se superior, quando isso só o faz pequeno.
O amor é algo completamente estúpido e inventado, provavelmente por quem não tinha nada em que pensar ou então tinha falta de choro. Bastava bater com a cabeça numa parede, era dois em um, chorava e ficava a pensar nisso.
Coisa parva é também o atrapalhado, esse velho siamês do constrangimento, devia sair à rua num dia chuvoso e ser levado pelo vento.
Pessoa só tinha era razão quando disse que a literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida, de a simular. O romance é a história que nunca foi, o drama o eufemismo da experiência inacabada, que é como quem diz: "ainda tens muito que ralar".
E é com isso que passo o tempo simulado da escrita - a ignorar.
Quem me conhece diria que é preguiça, mas eu digo que dói mesmo pensar!
O que queria mesmo ignorar é arrogância do desigual, que tentando ser semelhante acaba marginal. Irrita estar pr'aqui a rimar mas se não fosse isto já me tinha ido deitar. Que é exactamente o que vou fazer agora depois de tanta merda pr'aqui descarregar.
A escrita é o autoclismo da alma, pena que o meu esteja a maior parte das vezes estragado, entope-se-me a hipófise e deixo de comandar. Penso tudo o que não devo e faço tudo o que é errado.

Dass! mundo complicado.